domingo, 19 de dezembro de 2010

Cotas para negros; por que não, cotas para pobres?

Texto publicado em 12/06/2004

Dizem que negros e pardos constituem 50% da população brasileira, mas ocupam apenas 16% das vagas nas universidades. Embora até hoje não exista uma metodologia científica universal para se determinar quem é negro ou não, insistimos em fazer pesquisas que são tão subjetivas quanto os seus interesses. Afinal, entre brancos e negros há uma variedade tão grande de tons de pele que esta classificação passou a ser uma questão geográfica. Com a adoção do sistema de cotas em algumas universidades, aquela pessoa que passou a vida toda se classificando com não negro, agora passou a se auto definir negro, pois desta forma, irá competir com um número bem menor de candidatos e terá uma chance bem maior de conseguir a tão sonhada vaga.
Será que ninguém percebe que a criação de cotas para negros é o mesmo que legalizar a discriminação? Será que nem os negros percebem isso? Criar cotas para negros é o mesmo que dizer que eles não têm capacidade para competir com um "branco", e que por essa razão devem competir somente entre eles.
O que ninguém percebe é que não é o negro que é minoria nas universidades, não é o negro que não tem condições de se preparar para competir em pé de igualdade por uma vaga universitária, o pobre é que é minoria, o pobre é que não tem essas condições! Deveríamos então criar cotas para pobres, caso contrário, estaremos criando as condições para que em breve se possa ouvir afirmação do tipo: "a pior coisa que pode acontecer a um pobre, é ele ser pobre e branco", pois se fosse negro teria uma chance maior de cursar a universidade. Parece engraçado, mas não é. Posso até imaginar que aquele vestibulando "branco", pobre, que consegue nota 7,0 no vestibular, fique fora da universidade enquanto outro "negro", pobre ou não, consegue a vaga com nota 6,0. Seria um absurdo!
Em breve casais multirraciais começariam a ter predileção sobre os filhos que irão ter, e poderemos ouvir "tomara que nasça negro". O correto é que não haja a preferência, pois somos todos iguais, ou não?
Por gentileza, enxerguem: não é o negro que é minoria nas universidades, e a discriminação existe sim, mas é ao pobre.
LRDantas

A favor do psicotapa

Texto que publiquei em 05/05/2004

Houve um tempo em que os alunos respeitavam os professores, era o mesmo tempo em que os filhos respeitavam os pais, vou mais longe, um tempo em que as pessoas se respeitavam.
Então, alguém vai me dizer "os alunos respeitavam por medo", mas os filhos respeitavam por medo também? Falar sobre esse assunto sempre me faz cair em um mesmo paradigma: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Respeitavam os pais porque respeitavam os professores ou respeitavam os professores porque respeitavam os pais? E no fim sempre chego a uma mesma conclusão: ambas ocorrem concomitantemente, e um dos grandes motivos que levou a esta deteriorização do respeito foi a intervenção dos psicólogos na educação. (Veja que disse motivo e não culpado).
Na década de oitenta instituiu-se uma filosofia de que o aluno tudo pode, de que os filhos tudo podem, de que as pessoas... Isso se deve, talvez, ao término de um longo período de governo militar pelo qual o país passou. E com a eleição direta veio um período de liberdade exagerada que extrapolou os direitos quando se esqueceu dos deveres.
O pais não devem bater em em seus filhos. Ninguém está aqui para defender a agressão, este nunca foi o caminho, mas hoje já se fala da necessidade de um "tapa" na hora certa, ou seja, os pais precisam entender a nova ordem psicológica: um "psicotapa" na hora certa também educa.
E por gentileza pais, re-aprendam a dizer não!
LRDantas

Ensino "Pai-de-Santo"

Há algum tempo vinculava um comercial em uma rádio, no qual um jovem arrotava próximo a uma senhora que lhe dizia "educação zero" e, então, ele respondia "é, mais saúde 10, média 5, passei!". Usarei este comercial desagradável para ilustrar uma situação real que também não é nada agradável.
Hoje nas escolas estaduais e municipais o uso de uma prática lamentável está acabando com o ensino; é a já famosa situação "avaliação zero, trabalho 10, média 5... passou!". Quando um aluno faz uma avaliação ele já não se preocupa mais em saber o quanto tirou, a pergunta que se segue a uma avaliação geralmente é "o fessor vai dá um trabainho pra ajudá na nota?". Instituiu-se o ensino "pai-de-santo", só na base de "trabalho".
Dizem, os que nunca ministraram aulas, que se a maioria de uma turma vai mal o culpado é o professor. Será? Chegamos em um ponto em que o professor tem mais medo de registrar notas vermelhas do que os alunos têm de tirá-las.
Eu sei que a avaliação escrita é apenas um dos instrumentos a serem usados diante da verdadeira avaliação, que é global, mas a pressão que se faz sobre os professores para que os alunos passem, não se importando como, está fazendo com que estes usem de métodos de avaliação cada vez mais absurdos para que e consiga uma maioria de alunos com média.
Coisas do tipo: se o aluno estiver com o caderno em ordem, ou seja, copiar a matéria (o que nada mais é do que a sua obrigação), ele tem 10 de caderno. Se ele tem frequência e ficar quieto durante as aulas - não importa se desta forma ele não participe das aulas, o que importa é o silêncio - ele tem 10 de participação. Somando-se a estes os famosos "trabalhinhos", teremos o objetivo alcançado: "média 5, passou!".
Eu aprendi cedo na vida que só damos valor às coisas que batalhamos para conseguir. Por que um aluno iria se preocupar em estudar se ele sabe que irão fazer de tudo para que ele fique com média, por que ele daria valor aos estudos?
Alguns professores dirão: "a vida se encarregará deles". O problema e que a maioria desses alunos, não têm maturidade para saberem e perceberem o erro que estão cometendo. Cabe a nós fazermos algo.
No ensino médio os professores ainda têm o instrumento da retenção, mas eles se comportam como se estivessem no sistema de progressão continuada. Ocorre aqui um incrível paradoxo, os professores reclamam por não poderem mais reprovar o aluno no ensino fundamental, porém eles não usam este instrumento no ensino médio. Talvez seja o "bônus", que leva em consideração o número de alunos retidos, o responsável por tudo isso. Até parece que os professores têm medo de reprovar aluno, e isto é lamentável, pois os alunos já perceberam e não têm mais medo, afinal eles sabem que irão passar. A culpa é de quem?
LRDantas